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Vozes dos sobreviventes: Shigeo Sasaki, 84

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Shigeo Sasaki com o neto e os bisnetos em abrigo na cidade de Morioka

A casa de Shigeo Sasaki, 84, ficava 15 metros acima do nível do mar, o que dava ao ex-pescador a crença de que estaria livre de tsunamis. Quando o alerta de evacuação foi dado depois do terremoto que atingiu o Japão na sexta-feira, Sasaki observou o mar de sua janela por longos minutos, até se convencer de que a ameaça era real.

Antes de fugir, decidiu mover o carro para um lugar mais alto e disse para sua mulher subir a montanha por uma trilha que começava ao lado da casa _ambos se encontrariam no topo. Cinco minutos depois, Sasaki escutou o estrondo das ondas e voltou correndo, mas foi barrado pelo avanço da água.

“Quando subi de novo a montanha, olhei para trás e não vi mais minha casa. Olhei por todos os ângulos, mas ela não estava mais lá.” Sasaki também não viu sua mulher, Setsuo, 82, com quem estava casado havia 65 anos.

Durante três dias, o ex-pescador ficou sem saber se seus filhos, netos e bisnetos continuavam vivos. Resgatado por helicóptero da montanha onde se refugiou com outras 50 pessoas, ele foi levado para um abrigo, no qual o neto Masanori Nukamori o encontrou.

A família vivia em Kamaichi, uma das inúmeras cidades da costa da região de Iwate que se dedicam à pesca. Sasaki nasceu lá e já havia visto dois tsunamis, mas nada comparável ao que enfrentou há uma semana.

Nukamori e a mulher, Sayaka, têm quatro filhos, de 1, 4, 6 e 7 anos. Quando o terremoto ocorreu, o casal e os dois filhos mais novos foram para o refúgio construído em uma das montanhas de Kamaichi. Sayaka se preparava para buscar os outros filhos na escola quando as ondas gigantescas se aproximaram e todos correram para o alto da colina.

“Eu vi muita gente na água, mas não podia fazer nada. As pessoas estavam misturadas com entulho, carros, pedaços de casas”, lembrou Nukamori em um dos abrigos de Morioka, capital de Iwate, uma das regiões mais duramente atingidas pelo tsunami.

O casal e os dois filhos passaram a noite no refúgio, com aproximadamente 1.000 pessoas. Fazia frio, não havia eletricidade e as crianças choravam. Todos estavam em choque.

No dia seguinte, foram para um abrigo de refugiados e, no outro, Nukamori encontrou os outros dois filhos. Até então, casal não sabia se eles haviam sobrevivido ao tsunami.

A casa da família foi varrida do mapa. “Todas as nossas memórias, as fotos, os desenhos que as crianças fizeram, as recordações dos aniversários, tudo deixou de existir”, lamentou Nukamori.

O menino Shonosuke Yoshida, 10, estava na escola no momento do terremoto e foi levado com os demais estudantes para o alto de uma montanha. De lá, ele viu a água arrastar tudo o que estava pela frente, inclusive a casa onde vivia com seus pais, Kazuya e Kanako Yoshida. O menino tinha certeza de que eles estavam mortos.

No fim da tarde do dia seguinte, Kanako finalmente conseguiu chegar ao abrigo e encontrou o filho. “Quando ele me viu, arregalou os olhos”, conta a mãe. “A maioria das crianças viu suas casas serem destruídas. Alguns pais apareceram depois para buscá-las, mas outros, não”, disse Kazuya.

Hino Yoshiki, 52, estava na empresa de refrigeração de peixe em que trabalhava em Kesennuma quando o tsunami chegou. Outras pessoas que não tiveram tempo de chegar às montanhas se refugiaram no local, onde passaram a noite.

No dia seguinte, Yoshiki foi resgatado de helicóptero e levado a um abrigo em Morioka, onde está até hoje. Casado e pai de três filhos, ele ainda não falou com ninguém de sua família, mas disse ter recebido a notícia de que estão bem, instalados em algum abrigo de Kesennuma. Só não sabe se sua casa ainda existe.


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